O bonsai e o frio.
Como já vimos em artigos anteriores, existem vários tipos de bonsai, de interior e exterior ou de dupla localização, de folha caduca e de folha perene, mas todos eles sentem o frio de forma diferente e assim temos que adequar a sua manutenção em função do tipo de bonsai.
O bonsai de interior não sente o frio da mesma forma que o bonsai de exterior.
De facto, o bonsai que chamamos de tropical, por exemplo o ficus retusa ou a carmona macrophylla, são muitos sensíveis à temperatura quando esta cai abaixo dos catorze graus centígrados, caso em que as suas folhas começam a murchar, parecendo ser falta de água, mas não é, neste caso regar só iria piorar a situação, as folhas ficam amarelas, castanhas e depois acabam por cair, causando a morte do bonsai.
Isto nada tem a ver com geada, é um fenómeno natural que ocorre porque o chamado bonsai de interior ou tropical não está adaptado ao nosso clima.
No final do outono e início do inverno, como resultado da redução das horas de luz do dia e das temperaturas diurnas e nocturnas mais baixas, as árvores de folha caduca ficam completamente privadas das mesmas.
A isto chama-se dormência porque a seiva está parada.
Este termo, a dormência, é utilizado para definir um período em que o desenvolvimento de um organismo é temporariamente retardado pela sua atividade metabólica.
O organismo conserva a sua energia enquanto espera por melhores condições de vida. Muitas plantas e árvores possuem este mecanismo genético. Para prever a chegada de um sistema de vida inadequado como o inverno, as árvores utilizam a foto periodismo, ou seja, a relação entre a duração do dia e da noite.
A foto periodismo é a duração da luz do dia, ou seja, a duração da luz solar como parte de um ritmo biológico. No que diz respeito à vida vegetal, a foto periodismo é crucial porque influencia o crescimento do caule, a floração, o desenvolvimento dos orgãos de reserva, a propagação vegetativa como a formação de bolbos, o início e o fim da dormência e a queda das folhas no outono.
Ler artigo original sobre o outono e o bonsai.
Como é que as árvores se protegem do frio e até que ponto?
A casca das árvores é a sua primeira linha de defesa contra o frio. A sua casca exterior protege-as das doenças, dos insetos, das tempestades e das temperaturas extremas. Cheia de células, atua como isolamento da árvore.
A casca interna, chamada de líber, tem canais que transferem os nutrientes das folhas para os ramos, o tronco e as raízes. É, portanto, uma parte essencial da fotossíntese que permite o crescimento das árvores. A casca exterior ou o suber, isola a árvore das condições climatéricas como o sol, o frio, a neve, a chuva ou o vento. Evita a evaporação excessiva e evidentemente a secagem do líber e do câmbio. A casca das árvores é constituida por células impermeáveis que protegem o interior das variações de temperatura, das doenças, dos animais que podem provocar danos com os chifres e dos insetos. Esta camada exterior do tronco é mais ou menos espessa consoante a idade da árvore, mas também consoante a espécie.
As feridas são pontos de entrada para doenças e parasitas. Se a ferida fôr profunda, o câmbio tembém é afetado. A árvore tenta então utilizar toda uma panóplia para curar as suas feridas o mais rapidamente possível, produzindo toxinas que protegem a zona afetada, depois as células do câmbio dividem-se rapidamente para produzir um crescimento à volta da ferida. Este inchaçao fecha-se progressivamente para que o câmbio possa voltar a desempenhar o seu papel inicial.
O câmbio, do latim cambiare, que significa mudar, produz os tecidos condutores secundários, é uma ponte entre a madeira e a casca.
No inverno, o solo fica frequentemente congelado e, portanto, recebe muito pouco água, pelo que a árvore deve adaptar-se deixando cair as suas folhas em árvores de folha caduca para que não congelem ou, limitando a evaporação através das folhas em árvores de folha perene.
Os gomos adormecidos na árvore cobrem-se de escamas que as protegem da geada.
O bonsai de agulhas como os pinheiros são os mais conhecidos em bonsai de folha perene. O facto de serem sempre verdes deve-se à adaptação das árvores ao seu ambiente ao longo do tempo.
Ao contrário do bonsai de folha caduca, a vegetação do bonsai chamado de folha perene não pára, apenas abranda, razão pelo qual notamos que algumas coníferas mudam de tom no inverno, tornando-se amarelo-acastanhadas quando a sua cor original é verde ou amarelo-esverdeado.
Nota-se por exemplo no taxus ou teixo.
Muitas espécies de coníferas são resistentes ao frio e podem, portanto, resistir a condições de congelamento. Outras preferem um clima mais quente, como o pinheiro guarda-sol também chamado de pinheiro manso ou pinus pinea.
O pinus pinea com a sua forma de guarda-sol é o pinheiro característico da região mediterrânico, principalmente em Espanha, Itália, Turquia e Portugal, onde pode atingir até vinte metros de altura e dez metros de copa.
É um imponente e majestuoso pinheiro que pode viver de duzentos a duzentos e cinquenta anos, as suas agulhas longas e grossas são ligeiramente azuis quando jovens, tornando-se mais tarde verde-escuro e são picantes e agrupadas em pares.
O tamanho das agulhas varia de oito a dezoito centímetros, mas no bonsai podemos reduzi-las a menos de cinco centímetros através da pinçagem regular.
Este pinheiro praticamente não tem raiz axial, o que é outra vantagem para trabalhar com ele em bonsai.
O bonsai pinus pinea tolera temperaturas mínimas de dois a cinco graus negativos, para além das quais é fortemente recomendado protegê-lo com turfa ou palha ou até mesmo resguardá-lo num local fora de gelo.
Curiosidade:
Portugal tem uma superfície total de mais de cento e setenta e cinco mil hectares de plantações de pinheiro manso em comparação com mais de quatrocentos e quarenta mil hectares em Espanha.
Noventa por cento da produção portuguesa é destinada à exportação.
Ler artigo original sobre o pinus pinea em bonsai.
Os pinheiros e abetos perdem de facto as suas folhas, semelhamntes a agulhas, mas como isto acontece gradualmente, mal nos apercebemos e por isso permanecem verdes durante todo o ano. De facto, susbtituem as suas folhas que caem durante o ano por novas agulhas ou escamas que voltam a crescer.
As agulhas do pinheiro são folhas modificadas e as agulhas de coníferas sempre-verdes têm uma camada exterior espessa chamada de cutícula para reter mais água.
O ar seco dá às folhas uma forma de agulha para evitar a perda de água por evaporação e transpiração. A forma reduzida da agulha em comparação com uma folha dita normal, ajuda a reter a humidade e a combater a perda de água. Isto porque os estômatos estão embebidos e firmemente envoltos em folhas em forma de agulha. No caso do pinheiro, que geralmente crescem em montanhas e regiões frias, a forma da agulha dá-lhes a capacidade de limpar a neve, evitando assim a quebra dos ramos com o peso.
A função da agulha é a mesma da folha, nomeadamente a fotossíntese e a remoção do excesso de água das partes aéreas da árvore.
O comprimento das agulhas varia muito, sendo mais longo no pinheiro negro como o pinus thunbergii e mais curto no pinheiro branco como o pinus pentaphylla e no pinheiro da montanha como o pinus mugho.
Ler artigo original sobre folhas e agulhas do bonsai.
A maioria das coníferas da família gimnosperma, do grego gumnospermos, que significa semente nua, modificam a sua estrutura foliar para combater o frio e superar a diminuição da intensidade da luz. As folhas das árvores coníferas encontram-se assim sob a forma de agulhas em pinheiro ou pinus ou escamas em zimbro ou juniperus.
O gingko biloba que é igualmente uma conífera tem uma folha dita normal, mas é caduca e o pseudolarix, a metasequoia e o taxodium que são também coníferas apresentam uma folha alongada tipo uma agulha achatada e são igualmente árvores de folhas caducas.
Mas o que é a geada e quais as consequências no bonsai?
A geada é o resultado da cristalização da água em gelo e tem efeitos nocivos sobre a árvore, reduzindo a absorção de água pelas raízes, levando à morte da planta.
A seiva que continua a fornecer o metabolismo, irá congelar, aumentando de volume e causando o rebentamento das células e consequentemente as raízes podem partir o vaso do bonsai.
Se o solo estiver congelado, as raízes já não absorvem a água do solo e a planta morre de sede antes de morrer de frio.
Bom a saber:
Um bom período de dormência contribui para o desenvolvimento da árvore na primavera e permite-lhe florescer de forma homogénea. Sem uma dose suficiente de frio, o ciclo de floração recomeça demasiado depressa e de forma anárquica, com flores de pior qualidade. Consequentemente, a produção de frutos será menor.
Temos clientes que insistem em deixar figueiras dentro de casa e que nunca produzem frutos e mantém as folhas quase todo o ano. É uma barbaridade, o ficus carica, ou seja, a figueira é um bonsai de exterior e nunca pode ficar no interior, claro que vai ter folhas porque tem calor, mas ao fim de alguns anos nessas condições acabará por morrer.
Temos que respeitar a natureza e a lógica é que não existe nenhuma árvore que possa viver dentro de casa.
Outra vantagem do frio e da geada em particular, para as árvores de fruto como a macieira por exemplo, é o seu impacto sobre as pragas que passam o inverno nas árvores, geralmente no tronco. A geada, com temperatura abaixo de zero, não ultrapassando os cinco graus negativos para o nosso bonsai, mata uma parte das pragas. Quando os bonsais estão sujeitos a períodos de inverno bastante rigorosos, há menos problemas ligados aos ataques de pragas na primavera e assim sendo teremos mais produção de flores e respetivos frutos. Quanto mais longo o tempo de frio, na natureza principalmente abaixo dos sete graus centígrados, mais o bonsai de fruto será produtivo. Mas cuidado, como já mencionamos, o bonsai deve ser protegido abaixo dos cinco graus negativos.
NOTA:
Quanto maior for a humidade e menor a temperatura, maiores serão os danos na planta.
No que diz respeito ao bonsai, é fortemente recomendado manter a humidade suficiente no solo para não causar a sua desidratação, mas é imperativo regar de manhã para lhe dar tempo de secar durante o dia. Regar o bonsai de manhã é fundamental no verão, mas ainda mais no inverno porque os dias mais curtos e sombrios não ajudam na eliminação da água que fica nas folhas, evitando assim uma taxa de humidade elevada durante a noite.
Não é por estar frio que não devemos regar, pelo contrário, um bonsai que não tem água suficiente é uma árvore frágil, suscetível a doenças, mas também ao frio e ainda mais ao gelo.
Para evitar problemas é necessário selecionar o bonsai que teme o frio, como o bonsai tropical, a carmona macrophylla e o ficus retusa são os principais e devemos abrigá-los a partir dos catorze graus centígrados. Na iberbonsai temos uma estufa própria, fechada e auquecida no solo, a quatorze graus durante a noite, reservada aos bonsais carmona, ficus e sageretia, de outubro até fim de abril. Durante o dia abrimos a estufa na totalidade ou parcialmente conforme a temperatura ambiente para que haja circulação de ar e evitar o apodrecimento das folhas e voltamos a fechar à noite quando a temperatura começa a baixar. Temos que vigiar durante o dia o termómetro, porque não pode haver uma diferença brusca de temperatura, o bonsai de interior sendo muito sensível a alterações repentinas de ambinete, assim sendo a mudança tem que ser gradual.
Daqueles que podem permanecer ao frio, mas apenas até um certo ponto, cinco graus negativos parece ser um limiar razoável a partir do qual será preferível proteger o bonsai com turfa ou palha, ou ainda melhor e definitivamente trazê-lo para um lugar livre de geadas, mas com muita claridade e mais importante ainda, sem aquecimento.
Existe agora um pano de inverno que é um tecido branco feito de polipropileno não tecido, permitindo aos bonsais ganharem alguns graus que serão muito importantes à sua sobrevivência. Este tecido protege eficazmente as plantas, permitindo a filtragem da água e do ar, deixando assim a troca de gases vitais para o bonsai.
O mais importante é proteger o torrão e o vaso porque as raízes são muito sensíveis e, portanto, vulneráveis a estarem demasiado próximas da borda do vaso, que é frequentemente fino. A escolha de um vaso com paredes grossas facilitará a proteção das raízes durante o inverno, sobretudo nas regiões onde o gelo é mais forte.
Proteger igualmente o nebari e a base dos ramos principais para que a planta possa ser recuperada, se necessário.
Em caso de geada, estamos apenas a falar de bonsai de exterior, uma vez que o bonsai de interior que congelou não é recuperável e está morto. Para os outros, em caso de geada moderada, é possível tentar recuperá-los, em partticular e logo que se note as consequências da geada, retirando as folhas afetadas, murchas ou descaídas para baixo, cortando também os ramos afetados, para isto basta raspar o ramo com a unha até encontrar uma parte verde, eliminando a totalidade das partes secas ou desidratadas. Quanto mais folhas verdes ainda tiver, mais fácil será a recuperação do bonsai. Sem folha nenhuma o bonsai fica mais fraco e será muito difícil a sua recuperação.
DICA:
Um erro fatal a não cometer, alterando abruptamente o ambiente do bonsai, ou seja, retirando-o do frio e colocando-o de imediato num local quente, a diferença térmica amplificará os danos e acelerará a morte do bonsai.
A melhor solução para tentar reparar os danos é colocar o bonsai que sofreu da geada numa área abrigada, mas sobretudo sem aquecimento e com luz natural suficiente, deixá-lo descongelar pouco a pouco e remover as folhas e ramos danificados, deixando as mais verdes como explicado acima. Nunca deitar água quente em cima do torrão, só irá cozer as raízes e matar ainda mais depressa o bonsai. Uma vez descongelado e apenas quando notarmos que a terra à superfície do torrão começar a secar, então poderemos começar a regar com cuidado e sobretudo sem nenhum adubo, mas sim com vitaminas. São um fertilizante organo-mineral líquido com efeito imediato para os bonsais e que devem ser adicionados à água da rega.
As nossas vitaminas são próprias para ativar o crescimento, as folhas ficam mais verdes, favorece a floração, aumenta a resistência ao frio e às doenças. Previne o choque após o transplante do bonsai e acelera a produção de raízes nas plantas recuperadas como é o caso de uma árvore que sofreu do gelo. O vitabonsai é um pesticida e não é tóxico para as plantas. Deve ser utilizado como complemento ao adubo e não com substituto. Para um bonsai debilitado recomendamos uma aplicação com sessenta gotas por litro de água, sempre a seguir à rega e sobre substrato húmido.
O frio deve ser evitado para muitos bonsais, mas também é precioso e inevitável para alguns para produzirem flores e frutos, como os bonsais de frutos, é o caso da macieira, da oliveira, da púnica granatum nana, do chaenomeles japónica, da pyracantha coccinea, da eugénia myrtifolia, do ilex aquifolium, da magnólia stellata, do prunus cerasifera e muito mais.
Ver os nossos bonsais de flores e frutos.
Mas como proteger o nosso bonsai do frio?
Em resumo, para manter um bonsai de boa saúde ao longo do ano, devemos antes de mais respeitar as condições favoráveis de crescimento:
- O local certo de acordo com as espécies de exterior ou interior;
- Controlar a rega apenas regando de manhã e só se necessário, ou seja, quando o torrão começar a secar á superfície;
- Aplicar fertilizante líquido e fertilizante orgânico como biogold durante a época de crescimento;
Ler artigo original sobre a fertilização do bonsai.
- Utilizar apenas substrato de boa qualidade como akadama, kiryuzuna, kanuma, keto, sakadama, pomice;
- Proteger do sol no verão principalmente entre as onze e as dezassete horas com uma rede de sombra ou guarda-sol. O sol, como o frio e o gelo, é um fator de risco para o bonsai e pode provocar danos irreversíveis. Muitos clientes perdem bonsais tanto no verão como no inverno por cometerem erros que podiam ser evitados.
Ler artigo original sobre o sombreamento do bonsai.
- Proteger no inverno com palha ou turfa, uma rede de hibernação ou ainda melhor se estiver realmente frio, mantendo o bonsai num abrigo sem geadas.
Ao respeitar estas indicações, estaremos a proteger o bonsai de qualquer situação negativa que possa surgir.
No inverno o bonsai continua a precisar de muita luz e de um mínimo de água para sobreviver, por isso é imperativo vigiar a claridade e a rega e evitar as geadas. Devemos parar a adubação no fim de setembro, deixar repousar o bonsai sem adubo em outubro e adubar só em novembro com um adubo orgânico como o biogold que leverá dois a três meses a decompor-se.
Ler artigo original sobre o biogold para bonsai.