Tanuki e o bonsai
Tanuki é uma expressão que é mais ou menos comum no mundo do bonsai e que continua a manter-nos em dúvida.
Verdadeiro ou falso? É um bonsai para uns e é uma montagem para outros, portanto considerado um truque no universo do bonsai.
Tanuki é um termo japonês
Quando traduzido, identifica um animal semelhante a um certo tipo de cão ou texugo com tendências bastante viciosas e agressivas.
No Japão existe um conto popular que se refere a um budista que visita os habitantes de pequenas cidades e zonas rurais para os enganar e levar os seus bens e dinheiro.
Portanto, poderiamos traduzir perfeitamente o termo tanuki em ilusão, uma vez que nos faz acreditar noutra coisa que não é realidade, a ideia de que uma coisa pode ser transformada noutra.
No Japão, os tanuki nunca são exibidos em exposições profissionais, porque não são considerados bonsai.
Mas o bonsai tanuki existe, embora não seja considerado um estilo mas sim uma técnica para fazer uma árvore parecer mais velha do que realmente é, mas não é muito fácil de fazer e continua a ser um privilégio de alguns profissionais.
O estilo que o tanuki imita é sharimiki ou seja estilo de bonsai com madeira exposta, com o tronco retorcido e esbranquiçado.
Ler o artigo sobre os estilos de bonsai.
Mas então o que é um tanuki?
O que é comummente chamado de Tanuki é um tipo de bonsai criado a partir da união de uma árvore morta e de uma árvore viva, daí a dúvida que persiste sobre se estamos realmente a falar de um bonsai ou de uma peça de montagem.
Em princípio devemos respeitar a mesma natureza no que diz respeito à madeira morta e à árvore viva, mas muitas vezes não é esse o caso, sendo o objectivo principal o trabalho final como exemplar, qualquer que seja a espécie.
É uma técnica de treino utilizada para modelar uma árvore na qual uma árvore viva é misturada com a casca de uma árvore morta.
Trata-se mais propriamente de uma obra de arte feita sobre madeira morta do que de um bonsai verdadeiro.
O objectivo é fazer com que pareça uma única planta, apenas com muito tempo e paciência o resultado pode enganar o espectador, pois a semelhança com uma árvore real na natureza será óbvia.
Contudo nem todas as espécies de bonsai são adequadas para este tipo de técnica.
O mais fácil para alcançar esta ilusão é o juniperus, que é mais simples de trabalhar quando mais jovem.
O primeiro passo no tanuki é encontrar a madeira morta que irá sustentar a árvore viva.
Ao caminhar pela floresta, pode deparar-se com um toco ou parte de um tronco morto com algum relevo ou padrão que seja benéfico para a ilusão que quer dar ao seu tanuki.
Uma vez encontrada a obra de arte, começa o trabalho de limpeza e preparação para a sua preservação.
O primeiro passo é limpá-lo com uma escova ou mesmo com um raspador, se necessário. Não devem ser deixadas impurezas na parte morta do tronco.
Podemos aproveitar a oportunidade para esculpir algumas partes na madeira morta ao nosso gosto, a fim de obter a silhueta que desejamos. Por exemplo, podemos utilizar uma ferramenta como um cinzel afiado ou uma goiva para fazer uma pequena ranhura ao longo do comprimento do tronco, como uma caleira, onde a planta viva será colocada. Esta parte não é necessariamente profunda, sendo o objectivo permitir que a madeira viva caiba bem na madeira morta.
A seguir, mergulhamos o tronco ou parte do tronco durante pelo menos vinte e quatro horas numa mistura de água com lixívia. A finalidade é eliminar qualquer tipo de fungos ou insecto que possa estra presente na madeira.
Depois, deixar o tronco secar ao sol durante vários dias, o máximo de tempo possível, antes de aplicar um líquido desinfectante como ácido sulfúrico ou líquido jin, cujo objectivo é branquear a madeira mas também e sobretudo, protegê-la contra o podridão e ataques de fungos e bactérias.
Deixar secar novamente ao sol durante vários dias antes de usar.
Importante: a madeira escolhida deve ser firme e resistente à humidade e ao apodrecimento.
E agora a parte viva.
É imperativo seleccionar uma árvore jovem ou mesma uma muda com alguns anos de idade para que seja mais fácil de manusear.
Um juniperus como o juniperus tamariscifolia ou sabina por exemplo, é particularmente bem adaptado a este tipo de técnica. É uma das árvores mais resitentes a traumas, tais como buracos no caule para fixar à madeira morta.
É melhor escolher uma árvore que seja bastante longa, esguia e não demasiado grande.
A operação deve ter lugar durante o Inverno, a única altura em que a parte viva da árvore que está a tentar sobrepor à madeira morta está em repouso, pelo que há muito menos risco de stress para a planta.
De preferência escolher um tema que se preste facilmente à realização do nosso objectivo final, o conjunto deve ser proporcional para permanecer agradável aos olhos.
A união das duas peças:
A parte morta é o trabalho estético em si, pode ser pura escultura de madeira na qual aplicaremos uma árvore viva.
Não esqueçamos que a árvore, para estar viva, preciso de solo para viver, pelo que é aconselhável plantá-la num substrato adequado para que tenha todas as hipóteses de sobreviver.
Ler o artigo sobre o substrato para bonsai.
O facto de a unir à madeira morta é uma situação anormal e stressante para a árvore e sem o mínimo de condições como o substrato e a alimentação, sucumbirá facilmente a este tratamento de choque.
Uma vez plantada a árvore no seu substrato, o tronco da madeira viva deve ser inserido na caleira que preparamos na madeira morta e é aqui que começam as complicações.
Também é possível fazer um buraco na madeira morta para deixar passar o caule da árvore viva de um lado para o outro.
O tronco da árvore viva deve seguir com precisão o caminho que foi cortado na dita caleira da madeira morta. Como resultado, por vezes o tronco da árvore viva deve ser forçado a uma certa posição sobre a madeira morta, dobrando-a. Neste caso, todos os meios são bons, tais como o uso de parafusos, arame de alumínio, abraçadeiras de cabos, etc.. o que causa um enorme stress à árvore viva.
O objectivo é unir as duas partes de modo a que acabem por se fundir sem que se note qualquer diferença. Para tal, é necessário atar as duas partes ao longo de praticamente todo o comprimento, ao mesmo tempo que se tomam algumas medidas de protecção como a utilização de ráfia para reduzir a agressividade do arame sobre a casca.
À medida que o tempo passa e a árvore viva se agarra á madeira morta, podemos começar a remover fixações tais como parafusos, arames ou abraçadeiras de cabos.
Um tanuki bonsai é original.
Conclusão: Quanto mais original a madeira morta, isto é com maior número possível de curvas e formas diferentes, mais bem-sucedido será o resultado. A forma do futuro tanuki depende directamente da arquitectura e da forma da madeira morta, quanto mais torcida for, mais bonito e especial será o bonsai.
Ver as nossas mudas de juniperus.